Consultório Odontológico
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PREVENÇÃO DE MALOCLUSÕES
Stegmiller, Thalita Pescinalli - Cirurgiã Dentista pela UNIVALE – M.G., 2002.
Dias, Sônia Felícia de O. - Especialista em Ortodontia pela E.A.P. São Paulo, 1988.
Marigo, Marcelo - Mestre e Doutor em Ortodontia pela Faculdade de Campinas – S.P.
Este estudo procura, num primeiro momento, explanar sobre as fases do desenvolvimento da face humana, identificando o fisiológico e o patológico. Num segundo momento, ressalta-se a importância da prevenção dos 6 (seis) meses aos 6(seis) anos e até antes do nascimento, com intervenções junto a futura mãe, como alternativas de soluções de possíveis problemas odontológicos. Por fim, relata-se um caso clínico em tratamento, onde não houve a devida prevenção, mas que se busca atenuar as disfunções clínicas por meio dos tratamentos possíveis.
Durante muitos anos, os profissionais da área odontológica acreditavam que, para tratar desvios faciais era preciso “esperar” até o estabelecimento da dentição permanente. Hoje acredita-se que, quanto mais precocemente for diagnosticada e tratada uma deformidade, melhor, e por que não intervir num recém –nascido?
O exame preventivo adequado para o bebê é um procedimento simples e rápido, contudo representa o primeiro passo importante para uma excelente saúde bucal, pelo resto da vida (McDONALD).
O conhecimento do “normal” ou fisiológico é fundamental para o diagnóstico de qualquer patologia, porém, é importante conhecer também como se desenvolve o sistema estomatognático e quais são os fatores que estimulam o seu crescimento. Desta maneira, podemos adicionar, frear ou suprimir estímulos, atuando sobre tais fatores no momento oportuno e com intensidade conveniente (PLANAS).
O desenvolvimento da face inicia-se na 4ª semana quando são segmentados cinco arcos brânquias no embrião. Dentro destes arcos branquiais originam-se os elementos esqueléticos, musculares, vasculares e os tecidos conjuntivo, epitelial e neural que suprem a face e o pescoço. Em cinco semanas, a face aparece comprimida entre o prosencéfalo e o coração que afeta significativamente seu crescimento porque, além de dar suprimento sanguíneo, a comprime. Já nessa fase, o padrão de crescimento da face acontece para frente e para baixo. Na sexta semana, o sulco na linha média da face desaparece e surgem duas áreas elevadas acima da futura boca. O centro dessas áreas se aprofunda e, futuramen-te originarão as narinas, ponte e nariz externo. Com seis semanas e meia, ocorre expansão da região anterior do cérebro que propicia o movimento das regiões maxilares laterais para frente da face. Até ocorrer a formação do osso, a cápsula nasal é o único suporte esquelético da face superior. Por volta da 14ª semana, o palato ósseo está bem estabelecido com uma sutura na linha média. Já a parte inferior da face é sustentada pela cartilagem de Meckel e, lateralmente a ela, forma-se a mandíbula que posteriormente se une, permanecendo uma cartilagem sinfisal até o 1º ano de vida pós-uterina, quando se ossifica. Quanto à musculatura, na 4ª semana aparece a massa de músculo facial que, da quinta à sétima semana se diferenciam, tornando-se funcionais até certo ponto. Da oitava à nona semana, forma-se, entre outros, o músculo bucinador revestido por uma almofada adiposa bucal que funciona na sucção, daí a bochecha volumosa do recém-nascido. Do terceiro ao nono mês, a face assume uma aparência mais humana e a cabeça aumenta em cumprimento e largura. Ao nascimento, a abóbada craniana é oito vezes maior que a face e com o crescimento, esta proporção diminui para 2:1 (dois para um) (MOYERS).
O estudo e conhecimento do crescimento craniofacial são de relevante importância, visto que permite ao clínico reconhecer desvios precocemente, diagnosticar anormalidades, adotando manobras que possam conduzir a criança à normalidade.
Crescimento refere-se ao aumento no tamanho ou número, já desenvolvimento refere-se ao aumento em complexidade. O crescimento é fortemente influenciado por fatores genéticos, mas ele pode ser significativamente afetado pelo meio ambiente, na forma de qualidade nutricional, grau de atividade física, saúde ou doença e fatores similares (PROFFIT).
As funções do sistema estomatognático são: sucção, deglutição, mastigação, fonoarticulação e respiração (SANTOS).
Essas funções são estímulos necessários para o crescimento ósseo. De acordo com a “Hipótese da matriz funcional” de Moss (MOYERS), o tecido esquelético cresce em resposta ao crescimento dos tecidos moles e, portanto, forma e função estão estreitamente ligadas. Assim, podemos, através dessa hipótese, explicar a etiologia de diversas maloclusões ou tratar outras, fazendo uso desses conhecimentos.
As malformações esqueléticas mais comumente encontradas são as retrusões e protrusões mandibulares. Esses
desvios podem ser diagnosticados desde o nascimento e pode-se intervir utilizando diversas formas, conforme o problema.
A retrusão mandibular acentuada é caracterizada por sobressaliência maior que 5(cinco)mm ou 10(dez)mm, com rolete gengival inferior numa posição distal ao superior, o que denomina-se “queixinho para trás”.
Para crianças menores de seis meses de idade que mamam no peito da mãe, recomenda-se a posição ortostática que consiste em colocar a criança sentada a cavaleiro na perna da mãe e de frente para o mamilo, pois dessa forma, a mandíbula será projetada para frente, determinando um exercício mioterápico que auxiliará o desenvolvimento da mandíbula (WALTER).
O bebê deve ser mantido em posições que favoreçam uma postura ereta da cabeça, favorecendo os movimentos mandibulares. Para carregar o recém-nascido com essa retrusão, indica-se o decúbito ventral e para deitar, recomenda-se o decúbito lateral (ALTMAN).
das articulações temporo-mandibulares, gerando, como resposta, a correção da distoclusão fisiológica e a modelação do ângulo mandibular (PLANAS).
Antes do exercício de tração, deve-se fazer uma massagem na região dos músculos masseteres e temporais, a fim de provocar relaxamento de suas fibras e posterior alongamento.
A protrusão mandibular é verificada quando o rolete gengival inferior encontra-se posicionamento medialmente em relação ao rolete gengival superior – “queixinho para frente”.
Na literatura, não encontra-se casos de mesioclusão nas primeiras horas de vida. Isso ocorre quando, ao invés do bebê levar o mamilo de encontro ao palato, ele o mantém mais baixo, pressionando com a língua a porção inferior. Assim, além de estimular mais essa região, passa a protruir com mais facilidade, levando a esta anormalidade postural.
Para amamentar o bebê com este tipo de anormalidade, a mãe deve oferecer o peito, inclinando o busto para frente, ficando o mamilo à disposição de sua boca.(TORRES)
Toques e sensibilização da papila palatina são recomendados para estimular o posicionamento correto da língua, que deve ser levada para cima e para frente. Recomenda-se à mãe fazer pressões suaves com o dedo indicador na região anterior do palato durante trêsminutos, duas vezes ao dia. As ginásticas e exercícios fisioterápicos modulam a direção de crescimento.(PLANAS)
Caso Clínico:
Identificação do paciente:
Nome: N.P.S.
Idade inicial do tratamento: 13 anos
Idade atual: 16 anos
Natural: Vitória
Por volta dos onze meses, rejeitou bicos de mamadeira e chupeta, não ocorrendo ação mioterápica sobre a mandíbulapossível agravante de sua retrusão mandibular.
Aos treze anos de idade relatou insatisfação com relação à estética dos seus dentes. O paciente apresentava mandíbula retroposicionada em relação à base óssea, mordida profunda em trespasse acentuado de 8 (oito)mm.
Tratamento:
A radiografia pedida no início do tratamento não indicou estimativa de crescimento e reação tecidual do paciente, o que poderia ocorrer anamnese prévia.
A aparatologia ortodôntica fixa foi indicada associado ao aparelho extra bucal (AEB) que foi pouco utilizado pelo paciente. Desta forma a solução encontrada foi o uso de elásticos Classe II para distalizar os elementos 13 (canino superior direito) e 23 (canino superior esquerdo). Como resultado observou-se melhora no posicionamento dos caninos superiores e aumento no crescimento anterior da mandíbula, reduzindo o trespasse horizontal significativamente.
Após dois anos de tratamento, o aparelho fixo foi removido temporariamente e substituído por um aparelho ortopédico funcional com o objetivo de produzir um crescimento vertical da face e melhorar o relacionamento da base craniana com a mandíbula, ainda pequena em relação à arcada superior. Este aparelho está possibilitando um posicionamento anteriorizado da mandíbula e tracionamento posterior dos dentes da maxila por meio dos músculos mastigatórios.
Observou-se que o trespasse vertical melhorou 70% (setenta por cento) visto que os incisivos inferiores já podem ser vistos via sorriso. Pode-se observar que o paciente teve crescimento anterior da mandíbula, o que gerou diminuição significativa no seu centro de crescimento, que agora está tentando reestimular para melhor posicionamento do arco. Foi possível observar respostas aos estímulos, mas são lentos devido o paciente ter um potencial de crescimento limitado, tanto de estrutura quanto de estatura.
Considerando a literatura atual reforçou-se a importância do ato de prevenir. Quanto mais precocemente for detectada a má fisiologia, tanto respiratória, de deglutição, de fonação, quanto ortostática de cabeça e pescoço, melhor é tratar essas anomalias com exercícios, fonoaudiologia e aparelhos ortopédicos funcionais, estes mal posicionamentos. Isso porque, ao final do desenvolvimento do indivíduo espera-se bases ósseas correspondentes aos espaços para alcançar uma dentição correta e musculatura madura e fisiológicamente perfeita e funcional.
Quando tratado o indivíduo após os doze anos pode-se melhorar o mínimo, camuflando os desvios e dando-lhe um sorriso agradável, uma função mais ou menos correta mas nem sempre perfeita, pois entre os três e seis anos, 80% (oitenta por cento) da face já completou seu desenvolvimento decrescendo, proporcionalmente, a possibilidade de correção esquelética. Dado isto nossa Odontologia deve voltar-se para a futura mãe e instruí-la em todos os postulados apresentados neste artigo.
This study bears, in a first moment, to explain human face development phases, identifying the physiologic and the pathologic. In a second moment, salient the importance of prevention from the 6 (six) months to the 6 (six) years and even before the born itself, with intermissions together the future mother, like alternatives of solutions for possible odontological problems. At last, report a clinical case in treatment where there was not an appropriate prevention, and in witch efforts are to attenuate the clinical dysfunctions by possible treatments.
1. ALTMAN, E.B.C. – Fissuras labiopalatinas, 3ª ed., Pro Fono Editorial, 1994 p. 551.
2. ARAÚJO, M.C.M. Ortodontia para clínicos, 3ª ed., Santos, 1981.
3. Mc DONALD, R e Avery, D. Odontopediatria, 6ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1995.
4. MOYERS, R. Ortodontia, 4ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1991, p. 483.
5. PLANAS, P. Reabilitação Neuro-oclusal. Medsi, 1988, p. 293.
6. PROFFIT, W.R. – Ortodontia Contemporânea, 2ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1993.